De 12 a 15 de dezembro o Comitê Nacional em Defesa dos Territórios frente à Mineração realizou em Mariana – MG a sua última plenária de 2015. Entre os participantes, representantes de movimentos sociais, ongs e igrejas; todos atingidos pela mineração de 11 estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Maranhão, Pará, Piauí, Goiás, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e Distrito Federal.

Foto: Lidyane Ponciano

A escolha por realizar o encontro em Mariana deveu-se principalmente pela vontade dos atingidos em trazer sua solidariedade às vítimas da Samarco/Vale, mas também ver de perto o resultado da tragédia causada pela irresponsabilidade da Vale/Samarco/BHP.

Muitos deles tem a Vale e outras mineradoras em seus territórios e convivem diariamente com o medo de que barragens sejam rompidas como aconteceu em Bento Rodrigues com o rompimento de Fundão.

Foto: Lidyane Ponciano

No primeiro dia, o professor e pesquisador da Universidade Federal de Juiz de Fora, Bruno Milanez fez uma análise de conjuntura com ênfase no Código de Mineração e trazendo a leitura, que ao contrário do que tentam passar Leonardo Quintão, relator do Código e o próprio prefeito de Mariana, votar o código sem aprofundar diversos estudos, dentre ele sobre barragens é dar carta branca para que tragédias como a de Mariana possam se repetir em diversas partes do país.

Nas falas dos participantes no debate, a ideia de que é necessário e urgente a discussão do modelo mineral no nosso país foi ganhando corpo. Não vai ser alterando um ou outro artigo que tornará o texto do Novo Código melhor, tem que se questionar toda a lógica da mineração e o texto tem que levar em consideração trabalhadores, populações, o meio ambiente e a água.

No mesmo dia, pesquisadores do Poemas apresentaram na plenária o Relatório Final sobre a tragédia de Mariana.
A apresentação foi feita pelo Luiz Jardins da UERJ e pela Maíra Sertã Mansur da UFRJ, pesquisadores do PoEMAS e membros do Comitê.

Este relatório foi construído por sete pesquisadores de cinco universidades: Universidade Federal de Juíz de Fora, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Estadual do rio de Janeiro, Universidade Estadual de Goiás e Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro e o seu principal objetivo foi sistematizar informações sobre o desastre tecnológico da Samarco/Vale/BHP em Mariana, e no Rio Doce de forma mais ampla, contribuindo para um debate específico sobre esta questão, como também para colaborar com o aprofundamento da discussão sobre o papel da mineração no Brasil.

Relatório: http://emdefesadosterritorios.org/politica-economia-mineracao-ambiente-e-sociedade/

Após a apresentação, os participantes tiveram a oportunidade de debater em grupos e dialogar sobre os problemas comuns a todos que vivem em áreas de mineração.

Na manhã seguinte foram visitar  Bento Rodrigues, para ver de perto onde começou a maior tragédia ambiental do nosso país.


Foto: Lidyane Ponciano

Oitenta e cinco pessoas caminharam em silêncio. Era nítido o quanto aquele lugar impactou a todos. Principalmente porque muitos deles convivem diariamente com o medo do rompimento de barragens próximas às suas comunidades.

No local encontraram o senhor José Zeferino Arcanjo, um ex-morador de Bento Rodrigues, de 73 anos, que todos os dias volta a sua antiga comunidade. Quando indagado porque vai lá ele diz “Porque sinto muita saudades da minha casa, da minha gente, sinto falta de Bento Rodrigues, éramos muito felizes aqui”

Foto: Lidyane Ponciano

O senhor José tem nove filhos que também moravam em Bento Rodrigues, todos sobreviveram. Mas nos conta das dificuldades em reconstruir a vida. Ele já se mudou para uma casa alugada, segundo ele a casa foi alugada por um ano e é por esse tempo que a Samarco comprometeu-se com a imobiliária a pagar o aluguel.

Ele levou todos às lágrimas, quando num desabafo disse: “Eu tinha tudo, hoje estou vivendo numa casa alugada, quase sem nada… essa roupa que estou usando não é minha, veio de doação. É muita humilhação viver assim. Nem este chinelo que tenho nos pés é meu. Eu num tenho mais nada”.

Todos saíram de lá extremamente impactados. No retorno ao local da plenária, depois de descansarem, receberam dois outros moradores de Bento Rodrigues para uma conversa: Expedito e José Afonso, eles perderam tudo para a lama da Samarco/Vale.

Entre lágrimas, eles relataram os momentos da tragédia e o quanto se sentiram enganados pela empresa, pois segundo relatos, sempre que questionavam a empresa sobre riscos, eles garantiam que não existiam riscos de rompimento.

Falaram também na demora da empresa em avisar sobre o rompimento e que só sobreviveram pois uns avisaram os outros.

No último dia, a Alessandra Cardoso do INESC e o Jarbas Vieira do MAM traçaram uma linha do tempo do Comitê , tudo o que construíaram desde o início e as perspectivas para os próximos dois anos.

Os encaminhamentos tirados foram a continuidade nas articulações contra o texto do Novo Código da Mineração, pela necessidade de ser discutido com a sociedade e principalmente com as populações nos territórios onde hajam projetos de mineração e a necessidade de debater o modelo mineral brasileiro.

Voltaram para suas cidades com mais disposição a lutar pela garantia de direitos para que outras histórias tristes como a de Mariana não aconteçam.

 

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