Limitada à atividade estatal, a exploração de urânio no Brasil passará para as mãos de empresas privadas como tentativa de ampliar a produção e a pesquisa de novos depósitos. A decisão foi apresentada pelo ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, em um tradicional encontro da indústria de mineração em Toronto. Os planos foram bem recebidos por empresas internacionais de exploração e produção de urânio porque o potencial do país ainda é, em grande medida, desconhecido, o que parece aguçar interesses no setor. A cotação do urânio, no entanto, não tem animado muito as empresas a embarcarem em novos projetos nos últimos anos.

Albuquerque falou sobre os planos de abertura na segunda-feira durante uma apresentação a investidores e a executivos de mineração em uma das sessões do Prosperctors and Developers Association of Canada (PDAC). Ontem, em entrevista ao Valor, ele deu mais detalhes sobre como o governo de Jair Bolsonaro (PSL) quer tratar do tema.

 

 

“O Brasil é um dos poucos países do mundo que domina a tecnologia nuclear e que tem grandes reservas de urânio”, disse ele. “Infelizmente o país, há quase seis anos, não faz mineração de urânio por diversas questões e veja que temos a sexta maior reserva de urânio do mundo, tendo um terço do território prospectado”, acrescentou. “Eu considero isso um absurdo.” Toda a atividade de urânio no país é feita somente pela estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB). “O que nós estamos procurando fazer é que o Estado tenha condições de controlar e fiscalizar e que incentive investimentos para que a gente possa explorar essa riqueza”, afirmou o ministro, que é almirante da Marinha e tem no currículo experiência com pesquisas relacionadas à energia nuclear. A mudança da legislação para permitir a entrada de players privados no negócio de urânio no Brasil é um tema que já defendido no Comitê de Desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro, de acordo com o ministro. “Agora temos que implementar as ações para que aquilo que tiver que passar   pelo Congresso para a flexibilização”, disse. Urânio é monopólio da União, conforme diz a Constituição. “Da mesma forma que o petróleo, mas isso pode ser flexibilizado porque o Estado tem o poder de controlar e fiscalizar para que esse empreendimento possa ser feito por empresas privadas.”

O Valor ouviu alguns executivos de empresas de urânio no Canadá que participavam do PDAC. Para David Cates, CEO da Denison Mines, a decisão do Brasil é uma boa notícia. Embora não tenha informações sobre qual potencial do país, ele vê que a abertura planejada pode vir a atrair investimentos estrangeiros quando o mercado estiver mais atraente.

Nos últimos dez anos, o Cazaquistão vem mudando o mercado de urânio globalmente, com uma oferta do mineral com baixo custo de produção. O Canadá, que era líder absoluto, acabou desbancado. A nova e ampla oferta asiática acabou influenciando, juntamente com a crise financeira global, nos preços. A libra do urânio que chegou a US$ 137 em 2007 despencou para U$ 17 e hoje ronda dos US$ 28. Minas importantes no Canadá e em outros países fecharam as portas porque os custos de produção não compensavam os preços de venda.

Jordan Trimble, CEO da SkyHarbour Resources, diz que pode ser um atrativo adicional o fato de o negócio de urânio ser por tanto tempo monopólio estatal. “É sempre uma oportunidade quando um monopólio estatat antigo é aberto porque as novas tecnologias e o capital privado podem revelar muito bons que não eram até então conhecidos”, disse.

Fonte: Valor Econômico

 

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