Nós do movimento Munduruku Ipereg Ayu do alto, médio Tapajós e baixo Teles Pires. Guerreiras, guerreiros, caciques, lideranças, mulheres, homens, crianças, pajés, do povo Munduruku. Associações Wakoborun, Da’uk, Arikico, Pariri, Conselho Indígena Munduruku do Alto Tapajós- CIMAT. Todas as regiões do nosso povo estão se manifestando, pra dizer que: Não autorizamos a associação Pusuru a representar nosso povo em nenhum assunto com o governo federal. Essa associação não representa os interesses do nosso povo, representa o interesse de garimpeiros.
Repudiamos o projeto de lei-191, PL da morte que só vai trazer mais destruição para o nosso povo e nossa floresta. Repudiamos todas os projetos de ferrovia e hidrelétricas do nosso território. Precisamos garantir nossa vida. Não vamos deixar passar.
Somos atacados e ameaçados pelos invasores garimpeiros pariwat e cada vez mais aumenta a destruição. Os caciques que lutam pela vida do seu povo estão todos ameaçados de morte.
Dois ônibus com crianças, idosos Munduruku, foram levados, sem nenhuma responsabilidade, para Brasília. Foram enganados pensando que discutiriam sobre melhorias para a vida do povo Munduruku, vão ajudar a destruir mais ainda nosso território.
Usaram o dinheiro do garimpo, dinheiro feito pela destruição de nosso rio e floresta, com nossa morte, com o trabalho escravo de pessoas na região. Foram levados pela ganância e ignorância de nossos parentes que estão aproveitando das mentiras desse governo.
Desde que iniciou o governo Bolsonaro, a invasão em nosso território aumentou muito, veio junto mais destruição e doenças. Com os garimpeiros veio a igreja evangélica, os pastores que dizem que Jesus está voltando e por isso não tem problema em acabar nossa água, nossa caça, nosso peixe.
Dessa vez não teve Avião da Força Aérea Brasileira-FAB para levar os coordenadores da associação Pusuru, aliciados pelo garimpo. Mas, tem o apoio do governo, muitos empresários, temos toda a lista. Pessoas conhecidas. Estão todos envolvidos nisso.
Eles estão patrocinando e convocando os indígenas para fazer essa manifestação na frente do congresso. Toda essa viagem foram eles, garimpeiros, chamando toda a cidade para se manifestar. Em pleno pico dos casos de covid. Com 31 mortes de parentes Munduruku. Eles Pedem que os donos de hotel não hospedem a polícia federal, o Ibama, o icmbio. Os áudios foram repassados para toda comunidade do município em geral.Viemos de uma mobilização nas aldeias de nosso território, quinze dias de viagem para conversar com nosso povo, para saber o que pensam em todas as aldeias, para dividir informações. Sabemos que esses que estão em Brasília não fazem isso. Não sabem o que o Povo Munduruku quer. Não discutiram essa pauta que estão levando para os Ministérios, sabemos que quem tá falando por eles são advogados, garimpeiros pariwat.
Nossa sede de associações foi destruída como forma de retaliação porque nossos guerreiros do Movimento Ipereg Ayu, não deixaram entrar Máquinas pesadas, pás retroescavadeiras, para nossos igarapés que ainda não foram poluídos, nos rios que ainda tem peixes. Muito já foi poluído, quase dez aldeias já sumiram.
Isso aconteceu em frente as autoridades do munícipio de Jacareacanga, que não fizeram nada. No mesmo dia nas redes sociais o vice coordenador da associação Pusuru aparecia abraçado com estas autoridades em frente a associação.
Eles queriam atacar todos nós do Movimento Munduruku Ipereg Ayu atacando nossa sede. Mas só ajudaram a nos fortalecer e nos reunir.
O que queremos é responsabilização pelos culpados da depredação de nossa sede coletiva. Retirada do comando da polícia que estava lá. Investigação sobre as ações desleais da associação Pusuru e os brancos envolvidos nisso. Expulsão dos invasores de nosso território. Responsabilização ao governo federal pela destruição que foi deixada em nosso território.
Mundurukania, 17 de abril de 20201
*Foto: Movimento Munduruku Ipereg Ayu