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Lançamento livro Quatro décadas do projeto Grande Carajás: fraturas do modelo mineral desigual na Amazônia

A atual publicação é uma iniciativa do Observatório dos Conflitos da Mineração no Brasil, coordenado pelo Comitê Nacional em Defesa dos Território Frente à Mineração. Os materiais desenvolvidos no âmbito do Observatório têm o objetivo de fomentar o debate público sobre a política mineral brasileira, aprofundando a crítica ao modelo implementado no país.

O principal representante corporativo do Modelo Mineral Brasileiro é certamente a Vale S.A. Em 2020, sem considerar empresas controladas e joint-ventures, a Vale representou 45,7% (95,4 bilhões de reais) do faturamento total do setor mineral nacional (208,9 bilhões de reais) (ANM, 2021). Assim, percebe-se que em termos de receitas a mineração no Brasil é altamente concentrada numa única empresa, no minério de ferro e, por consequência, também em Carajás. A segunda mineradora em termos de valor de operação é a Minerações Brasileiras Reunidas (MBR) (11,3 bilhões de reais), controlada pela Vale S.A., seguida pela Anglo American (10,2 bilhões de reais). Essa concentração do faturamento do setor representa de maneira evidente o principal beneficiado com os processos extrativos minerais no país.

Dentre os títulos minerários da Vale S.A., os pertencentes ao complexo minerador de Carajás são certamente os mais importantes em termos de faturamento e lucros para a empresa. Apenas em Parauapebas (PA) e Canaã dos Carajás (PA), a Vale obteve, em 2020, o faturamento bruto de 79 bilhões de reais. São esses também os dois municípios com maior valor de operações da mineração no país, de acordo com dados da Agência Nacional de Mineração. Carajás é o principal ativo que a Vale tem a oferecer a seus acionistas e ao mercado internacional, com altas taxas de produtividade e elevada qualidade do minério — em média, 67% de teor.

A grandiosidade do empreendimento da Vale S.A. em Carajás se expressa em um dos maiores fluxos de minério de ferro do comércio global. A monstruosidade de Carajás também se traduz na formação acelerada, desorganizada e excludente de núcleos urbanos marcados por bolsões de pobreza, serviços públicos deficitários e crescente violência urbana. Reflete-se ainda na expansão do desmatamento, na concentração de terras, nos conflitos no campo e na violação sobre povos indígenas. Acrescentam-se os atropelamentos e proibições de circulação das populações ao longo do caminho da Estrada de Ferro Carajás (EFC), os impactos das guseiras em Marabá (PA) e Açailândia (MA) e os problemas da estrutura portuária em São Luís (MA), que dá vazão ao sono rancoroso dos minérios. Por todos esses elementos, o complexo minero-siderúrgico de Carajás sintetiza de maneira autêntica o que se convencionou intitular Modelo Mineral Brasileiro e sua expressão dual (RANGEL, 1963).

A estrutura extrativa em formato de serpente não restringe os danos aos locais onde são as feitas extrações minerais, transportando seus efeitos pelos estados paraense e maranhense. Deslocar o olhar analítico para o trajeto do minério ao longo da rede global de produção é negar o argumento da intervenção pontual e espacialmente restrita da mineração sobre territórios e povos. A mineração é um importante vetor de reestruturação regional que transforma espaços, vidas e ambientes onde opera, neste caso, na Amazônia (MONTEIRO, COELHO, 2007).

Organização: Luiz Jardim Wanderley e Tádzio  Peters Coelho

Acesse o livro completo: Quatro Décadas do Projeto Grande Carajás

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